terça-feira, 25 de agosto de 2009

Marioneta

Vou dormir. Os olhos pesam. A cabeça pesa. E mais não digo. Há coisas que se pensam mas não se dizem. Engulo as palavras. Rumino e rumino tudo até que se desapareça.

Cada pensamento e cada impulso é mastigado até que se transforme em nada. Quero controlar todos os meus pensamentos de uma vez, mas eles fogem-me em todas as direcções. Pretendo dizer toda a verdade e não consigo. Para isso, teria de escrever quatro ou cinco páginas simultaneamente, todas resultantes numa, e essa é a razão porque não consigo escrever como gostaria...

Flutuo novamente. Todos os factos, as palavras, todas as imagens, e os presságios me sobrevoam e troçam uns dos outros. O sonho! Sempre que pretendo traí-lo o sonho atravessa-me como o som de um sino gigante de cobre. Roça-me assim que abro os olhos humanos e procuro viver fora dele.

E as imagens... trazem a dissolução da alma no corpo como a ruptura do ácido-doce do orgasmo. São imagens que sacodem o sangue e formam inúteis vigilantes do espírito, desconfiados, face aos êxtases perigosos.

A realidade afogou-se e a fantasia sufocou cada uma das horas do dia. Reconstruo constantemente a imagem de uma coisa que perdi e que não posso esquecer, estou doente desta persistência de imagens, reflexos e espelhos. Sou uma mulher que por detrás das palavras mais sérias sorri sempre, troçando da minha própria intensidade.

Sorrio porque presto atenção ao outro e acredito no outro – talvez demasiado. Sou uma marioneta movida por dedos inexperientes, desmantelada, deslocada sem harmonia; um braço inerte, e outro remexendo-se à mesma altura.

É complicado resistir a um pensamento. É igualmente complicado, não sentir o que sinto. Tento enganar-me, tento abstrair-me do pensamento constante que me prende a ti.

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